15/12/2009

Metal na veia

Pequena ela já gostava de balançar a cabeça. Bastava dois acordes para ela botar a perna direita pra frente e começar a pipocar.
O cabelo comprido, solto e escorrido, tapava o rosto branquinho e com olhos negros. Mas claro que dependia da música. Sabbath era a sua preferência. Torcia o nariz para os "mela-cueca".
Os adultos faziam comentários do tipo: 'ela vai ser dona de banda' especialmente quando tocava seu baixo imaginário. Air bass.
O tempo passou, o cabelo foi ficando mais preto e escorrido (bendita tinta), as aulas de baixo sendo levadas mais a sério. A maquiagem cada vez mais preta e as roupas, bem não precisa descrever.
Estava pronta: a voz boa, os dedos ágeis deslizavam no seu Fender Jazz Bass. Eis que numa noite entre discussões sobre filmes/música/trilha sonora e muito álcool ela conheceu um carinha. Gatinho, inteligente, um pouco tímido.
Passaram a noite e a manhã seguinte juntos. O namoro começou ali e ele foi engolindo ela. Acabaram as aulas de baixo, a ideia da banda, os shows de metal.
Hoje, ela só usa roupa branca.

14/12/2009

Melhor que seja sonho

Ela chegou aos 40 com a sensação que a vida não lhe deu o que merecia. Na noite passada sonhou — mais uma vez — com o carinho que conheceu aos 20. O maldito ainda faz ela suar frio.
Mesmo agora que ela chegou aos 40 com muitas rugas na cara, pelanca nos braços, pescoço enrugado e a bunda parecendo a lua — celulite e estria não perdoam ninguém — e morando com outra mulher.
No sonho, ele ia ser pai e não era ela que estava grávida. Mesmo no sonho, o maldito não lhe passava confiança. Ele dizia, olhando nos olhos dela, que iria ficar na sua companhia pra sempre.
Não adiantou. Ela teve o mesmo aperto no coração, igualzinho as vezes na vida real que ele prometeu ficar com ela.
Escovando os dentes de marfim, ela lamentou ter conhecido o maldito. depois, agradeceu por não ter dado certo. Ele nunca seria totalmente dela, nem será de ninguém.

12/12/2009

Juarez Machado

Essa semana fiz uma limpeza numa gaveta no jornal e encontrei um livro do Juarez Machado: Diário de Bordo. Foi um feliz encontro. O cara é fantástico. Artista mesmo: artista plástico, dedica-se à pintura, é também escultor, desenhista, caricaturista, mímico, designer, cenógrafo, escritor, fotógrafo e ator.
Lindo, lindo!
Olha só a capa do livro:



E a contra