19/07/2010

Faltou coragem

Fazendo uma limpeza no lixo digital encontrei textos da velha guarda. Os publicáveis vou depositar aqui. Os outros, continuarão abandonados.


Ele achou aquela garota cheia de charme desde a primeira vez que a viu. Entrou na sala com um sorriso enorme. Ele se encantou com aqueles lábios grandes, que lembravam um coração. Ela, nem aí. Ignorou o pobre menino que ficou encolhido com a pressão que ela exerceu sobre ele. Mas rapinho ela percebeu que ele parecia um ursinho de tão adorável. Sempre educado, amável, com histórias legais para contar.
Ela ficou por muito tempo só olhando aquele menino. No máximo, um amigo. De vez em quando, abraços, carinhos. Ela chegava em casa e ficava pensando nele, pensando que eles fariam um bonito par. Podia falar, deixar um bilhete anônimo, ou convidar ele pra uma saidinha, um cinema, um filme em casa. Não tinha coragem pra isso. Afinal, o ursinho queria ser só amigo dela.
Mas ele não pensava diferente dela. Queria levar ela para o motel, pra cama, queria sentir aquele corpo pequeno bem junto ao dele. Mas a garota descolada não ia querer nada com ele. Uma pena.
Ela acabou arrumando outro. Ele outra. A amizade continuou, mas a vontade de estar perto ainda era a mesma naqueles dois corações que não tiveram coragem de dizer, simples assim, que se queriam.
Até que um dia, ela sozinha em casa, ele solitário em outro canto da cidade, o destino resolveu unir os dois. Ele tomou coragem e ligou para ela. Ela fez o convite. Chamou ele pra uma visita. Ele aceitou na hora. Ela correu pro banho, colocou a melhor lingerie, passou aquele perfume de ocasiões especiais, deu uma arrumada na casa.
Ele chegou com um vinho. Ela estava cheirosa. Não demorou muito e os dois estavam com os lábios colados, a respiração ofegante, o coração disparado. Pra cama foi um pulo. O sexo foi melhor do que eles podiam imaginar. Um encaixe perfeito. Tiveram uma noite linda de amor. Assistiram ao Poderoso Chefão, tomaram vinho, banho, riram bastante. Nenhum teve coragem de contar que o encantamento era antigo. Ele foi embora com o cheiro dela no corpo. Ela ficou com o perfume dele nos lençóis.
No outro dia, foi um oi normal, uma troca de olhares sutil. Ela querendo pular no colo dele convidar para mais um noite de amor. Ele com o mesmo sentimento, vontade de tocar aquele corpo pequeno mais uma vez. Nenhum teve coragem e a troca de olhares continuou.